Notícias
31.08.2023
TJSP afasta dano moral por vazamento de dados pessoais
A 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) modificou de maneira unânime a sentença inicialmente proferida pela 4ª Vara Cível de Limeira (SP), a qual havia condenado a seguradora Prudential ao pagamento de R$ 10 mil por danos morais pelo vazamento de dados pessoais de seu segurado.
Após sofrer um ataque hacker à sua base de dados, o que é também compreendido como acesso não autorizado por terceiros, a seguradora informou aos titulares que tiveram seus dados pessoais afetados. Essa conduta está em conformidade com o artigo 48 da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018), que estipula as situações em que é necessária a informação, não somente para a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), mas também para os titulares atingidos.
Ciente do vazamento envolvendo seus dados, o segurado ajuizou ação indenizatória contra a seguradora, alegando que teve ciência de que estelionatários estavam usando os dados pessoais para compras.
Após sentença de procedência que fixou R$ 10 mil por danos morais ao segurado, a seguradora recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que reformou a sentença observando, essencialmente, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ)[1].
O TJSP, por sua vez, seguiu a linha de fundamentação do STJ e destacou que os dados pessoais envolvidos no incidente da seguradora não se configuram como dados pessoais sensíveis e, se não há dano comprovado, não é o caso de fixar danos morais em favor do segurado.
Além disso, há um importante ponto do acórdão que chama a atenção, pois o TJSP menciona que “a exposição de dados não se deu por ato da seguradora. A invasão, como tem acontecido amiúde, não é fruto da má organização das empresas ou entidades estatais.”
O acórdão se revela como um importante precedente para a LGPD no âmbito judicial e demonstra a importância da reflexão sobre alguns pontos:
- o TJSP, ao observar que não há dano moral comprovado, segue o correto posicionamento do STJ e minimiza a probabilidade da chamada “indústria do dano moral”;
- ficou comprovado no processo que o incidente não envolve dados pessoais sensíveis e que, portanto, o dano moral não seria presumido. Por isso, é importante refletir se a sua empresa teria condições de comprovar a dimensão do ataque hacker, bem como os dados que foram atingidos, para minimizar a probabilidade de uma condenação;
- a decisão evidencia a necessidade de as empresas estabelecerem não só mecanismos de segurança dos dados, mas também meios que os comprovem;
- assim como a anterior decisão do STJ, a decisão do TJSP ressalta a necessidade de cautela no tratamento de dados pessoais sensíveis, reforçando o princípio da necessidade e finalidade;
- independentemente de não haver condenação neste caso, é muito provável que a seguradora responda a outras ações indenizatórias, além de ser certa a possibilidade de responder a processo administrativo da ANPD.
A jurisprudência sobre a LGPD ainda é bastante escassa, o que serve como ponto de atenção para evitarmos possíveis passivos.
[1] Segundo o STJ, diante de incidente envolvendo dados pessoais, não é aplicável o dano moral presumido, especialmente quando não se trata de dado pessoal sensível. Veja a notícia publicada no site da ZNA em que comentamos que o STJ afasta o dano moral presumido em caso de vazamento de dados pessoais.
Gustavo Tonet Fagundes
Advogado ZNA
Recentes
STF não julgará incidência de IRPF sobre Stock Options, prevalecendo tese favorável aos contribuintes do STJ
31.08.2023
Sancionada lei que institui o novo Regime Especial de Atualização e Regularização Patrimonial
31.08.2023
Prazo maior para aprovação de dividendos de 2025: mudanças sugeridas pelo PL 5.473/2025
31.08.2023
Posicionamentos estaduais sobre IBS e CBS na base do ICMS revelam divergências
31.08.2023