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11.07.2025

Planejamento Sucessório e Patrimonial: Protegendo o Legado Familiar com Eficiência e Segurança

O Brasil é um país de empresas familiares. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais de 90% das empresas brasileiras são familiares, e que elas representam boa parte da geração de empregos e da movimentação da economia nacional. Ao mesmo tempo, sabemos que a sucessão patrimonial e empresarial, quando não é planejada, costuma ser uma das principais causas de desgaste, de conflitos e, muitas vezes, até da destruição de patrimônios e negócios construídos ao longo de gerações.

O tema ainda carrega muitos tabus. Falar sobre sucessão é, de certa forma, falar sobre finitude. Entretanto, as famílias que enfrentam esse tema com maturidade conseguem estruturar soluções que garantem a continuidade patrimonial e empresarial, preservam o legado familiar e, muitas vezes, trazem ganhos expressivos do ponto de vista tributário e de proteção do patrimônio.

Neste artigo, buscamos esclarecer, de forma acessível, o que é o planejamento sucessório e patrimonial, como ele funciona, quais são os seus principais instrumentos e, principalmente, quais são os riscos concretos de não planejar.


                              O que é planejamento sucessório e patrimonial?


Planejamento sucessório e patrimonial é um conjunto de estratégias jurídicas que visam organizar, ainda em vida, a transferência do patrimônio e, quando aplicável, a continuidade de empresas familiares. Ele permite que os bens sejam distribuídos de forma planejada, com segurança jurídica, redução de custos – especialmente tributários – e, muitas vezes, com preservação de cláusulas protetivas.

Diferente do que muitos imaginam, o planejamento não é destinado apenas a pessoas com patrimônio extremamente elevado. Na prática, qualquer pessoa com um patrimônio minimamente organizado – especialmente quando há imóveis, empresas ou investimentos – pode e deve se preocupar com isso.

Além disso, quando há uma empresa familiar no centro da estrutura patrimonial, o planejamento sucessório se torna ainda mais relevante. Afinal, além da preservação dos bens, é preciso garantir a continuidade do negócio, a governança adequada e a segurança das próximas gerações.

                              Por que planejar?

O planejamento sucessório não é apenas uma escolha inteligente – muitas vezes, é uma verdadeira necessidade.

O Brasil tem um dos processos de inventário mais burocráticos e caros do mundo. Um inventário judicial pode levar anos, gerar altos custos advocatícios, recolhimento de Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), taxas judiciais e, principalmente, causar bloqueios patrimoniais que paralisam empresas, imóveis e aplicações financeiras.

Além disso, o falecimento de um dos membros da família – especialmente aquele que exerce o papel de gestor ou de centralizador da gestão patrimonial – pode gerar conflitos entre herdeiros, insegurança na administração dos bens e, infelizmente, muitas vezes resulta na dilapidação de um patrimônio que levou décadas para ser construído.


                              Quais são os riscos de não planejar?


·                Bloqueio de contas bancárias e de aplicações financeiras.

·                Paralisação da empresa por indefinição sucessória.

·                Discussões familiares e disputas judiciais longas e desgastantes.

·                Custos elevados com ITCMD, custas judiciais e honorários.

·                Necessidade de vender patrimônio (imóveis, empresas, participações) para pagar impostos ou partilhar.

·                Dilapidação do patrimônio e perda do legado familiar.


                              Principais ferramentas utilizadas no planejamento sucessório e patrimonial


O planejamento é sempre personalizado. Cada família tem sua própria estrutura, seu próprio patrimônio, seu contexto familiar, seus valores e seus objetivos. Entretanto, algumas ferramentas jurídicas são largamente utilizadas e podem ser combinadas entre si, conforme o caso:


                              Holding Familiar


A constituição de uma holding patrimonial – geralmente uma sociedade limitada ou, em alguns casos, uma sociedade anônima – permite concentrar bens (imóveis, participações societárias, investimentos) sob uma única pessoa jurídica.

Por meio da holding, é possível antecipar a sucessão através da doação de quotas com reserva de usufruto e com cláusulas restritivas, como incomunicabilidade, inalienabilidade e impenhorabilidade.

Além disso, a holding permite uma gestão profissionalizada do patrimônio, facilita a governança familiar, protege os bens de riscos externos (como dívidas pessoais dos sócios) e, em muitos casos, gera eficiência tributária, especialmente na sucessão.

Um ponto muito relevante: há uma crença de que a holding gera economia tributária na renda corrente, o que nem sempre é verdade. Mas no contexto sucessório, sim, há relevante economia, especialmente no ITCMD, além de evitar custos com inventário.


                              Testamento


O testamento é uma ferramenta complementar. Embora não resolva integralmente a questão patrimonial, ele permite direcionar parte dos bens (até 50%, respeitada a legítima) e expressar a vontade do titular, inclusive com disposições sobre a administração do patrimônio.

O testamento é particularmente útil em situações que envolvem famílias recompostas (segundos casamentos, filhos de diferentes uniões) ou para disciplinar questões específicas entre os herdeiros.


                              Doação com Reserva de Usufruto 


A doação, especialmente de quotas da holding, é uma estratégia eficiente. Permite antecipar a sucessão, garantir a titularidade futura dos herdeiros e, ao mesmo tempo, preservar o usufruto vitalício e os poderes de administração por parte do doador.

Além disso, é possível incluir cláusulas que protegem os bens doados contra divórcios ou má administração.


                              Previdência Privada e Seguros de Vida


Instrumentos frequentemente utilizados como complementares ao planejamento. A previdência privada não entra no inventário e permite liquidez imediata para os beneficiários.

O seguro de vida tem papel muito relevante para gerar liquidez no momento da sucessão – muitas famílias utilizam o seguro para garantir recursos suficientes para pagamento de ITCMD, despesas de inventário ou para equalizar a partilha entre herdeiros.

                              Fundos de Investimento Exclusivos

Cada vez mais utilizados no planejamento patrimonial, os fundos exclusivos permitem organizar os ativos financeiros dentro de uma estrutura que pode ser mais eficiente do ponto de vista sucessório e, dependendo do caso, também tributário.

 

                                E a economia tributária?

 

Esse é, sem dúvida, um dos grandes motivadores que levam famílias e empresários a buscarem o planejamento sucessório.

O ITCMD tem alíquota de até 8%, dependendo do Estado. Há, inclusive, projetos de lei em tramitação para elevar esse imposto, como ocorre em muitos países desenvolvidos, onde o imposto sucessório chega a 30%, 40% ou até 50%.

Quando o patrimônio é transmitido por meio de uma holding, via doação, com reserva de usufruto e cláusulas restritivas, a base de cálculo pode ser mais eficiente, evitando a incidência de ITCMD sobre valorização futura dos bens, entre outros pontos.

Além disso, o inventário traz custos adicionais relevantes: custas judiciais, taxas, honorários e o mais pesado de todos: tempo. Não é raro que inventários no Brasil durem de 2 a 5 anos, ou até mais, com o patrimônio bloqueado e muitas vezes depreciando.


                                Conclusão: planejar é um ato de responsabilidade


O planejamento sucessório e patrimonial não é simplesmente um tema jurídico ou financeiro. É, antes de tudo, um ato de responsabilidade, de amor e de cuidado com a família e com aquilo que foi construído ao longo de uma vida.

Cada família é única. Cada patrimônio tem sua própria história. Por isso, não existe solução padronizada – existe análise, estudo e construção de soluções sob medida.

Se você tem patrimônio relevante, seja pessoal, seja empresarial, é importante refletir: está tudo organizado para proteger sua família e seu legado?

Sillas Battastini Neves

Sócio ZNA